quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé - PARTE VI


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VI - CONCLUSÃO.


    Quando resolvemos fazer memória desta História a primeira   motivação    foi  a nossa participação em um encontro de Circulo Bíblico no  fim do ano de 1993  na Paróquia N. Sra. conceição em Japeri,  onde foi  recordado sobre o  atentado da Catedral  de Stº Antônio de Jacutinga  e na nossa caminhada rumo a conversão ao Evangelho, nos sentimos no dever  de  pesquisa de forma mais profunda  sobre esse momento da História Brasileira e em particular da Baixada Fluminense  e o fato  em questão  e toda a pesquisa esta   arquivados na Cúria Diocesana  de Nova Iguaçu[1] e aqui neste nosso blog publicado em 6 partes  conforme apresentado acima. Destacamos ainda as acusações de que a Diocese não estava de acordo com as diretrizes da Igreja romana quando em sua caminhada se dedica no anuncio do evangelho de Jesus com  seu testemunho e  gesto concreto, se envolvendo nas lutas do povo que só quer ser tratado como gente e  não deseja ser coisificado pelo sistema.  O próprio bispo Waldir após a pregação na catedral de Nova Iguaçu foi chamado por um coronel que se fazia presente na liturgia para se explicar, pois aquele sermão era algo que estava mexendo com os brilhos do poder instituído. O bispo Waldir disse:
·     “O que eu falei é alguma mentira?”  2
Enfim quando se fala do período da ditadura militar no Brasil, nos tínhamos a coragem de maquiar e até mesmo existe aqueles que pensam, que naquele tempo não se via tanta corrupção  e desvio de verba publica.  Talvez quem pense, desta forma não perceba que o primeiro roubo, que o povo sofreu foi a perda do direito de dizer; sim ou não, como disse o bispo Waldir no III encontro de Fé e política do Rio de Janeiro em 19 de abril de 2008.
Outra questão que podemos afirmar: que o Bispo Adriano quando chegou a Nova Iguaçu era um homem das elites da Igreja e durante o tempo que esteve na Baixada o faz uma experiência de conversão e chega assumir:
·     “Na Baixada foi que me converti ao evangelho”3
Pe. Dinarte,  relata que na sua posse houve toda uma cerimônia de beija-mão   de Dom Adriano na Diocese de Nova Iguaçu,  que dificilmente depois de toda perseguição ele (D. Adriano) não  aceitaria.  Não recorda de Dom Adriano neste período de mais de 50 anos seria uma falha  com toda nossa História de luta.  Um Bispo que de forma direta ou indireta, constrói a Igreja da Baixada com um  rosto, uma identidade de comunhão com o povo perseguido.  
No ano  de 2007  o autor deste trabalho teve a honra de participar na organização do VI Encontro Nacional   de Fé e Política,    onde a memória desta luta e desta História foi celebrada por todos os homens e mulheres que vieram de todas as partes do Brasil.  Contando com a participação de  Cinco mil pessoas que se reuniram na Baixada nos dias 10 e 11 de  novembro daquele ano, refletindo  essa mística da Fé e Política e novamente setores conservadores da sociedade questionaram essa diretriz  da Diocese ora setores da direita ou  setores que se dizem apolíticos, chegaram ao ponto de acusar o atual bispo D. Luciano de não esta de acordo com as diretrizes de Roma.  
Dom Luciano Bergamin atual Bispo Diocesano.
A Diocese de Nova Iguaçu que é hoje composta de sete municípios (Paracambi, Japeri, Queimados, Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis e Belford Roxo) e três distritos (coletivo e carretão de Seropédica e Conrado o 3º distrito de Miguel Pereira) tem a característica de trazer para o altar a liturgia vivida em sua realidade.
Por isso, durante o período da ditadura sempre esteve ao lado dos perseguidos e apoiando os grupos que eram sinais de que Reino Deus começa aqui. A Diocese é grata ao Bispo Adriano que ousou  colocar em pratica as atitudes do evangelho de Jesus onde se tem clara a questão de Ele esta naquele que sofre dos males do mundo:4 o frio, a fome, o desemprego e sobretudo a perseguição política-religiosa. Por isso a proposta de um plano de Pastoral voltado para base para esses  que nada têm,  na Igreja inculturada na  realidade e é isso que vai gerar as perseguições como caso do coronel Moraes que acusa o jornal “A Folha” de comunista e subversivo. Então dom Adriano, traz um exemplo e fala se tivesse algo de comunista na folha ele mandaria fecha-la.
·     “O que é escrito na folha é somente a verdade do Evangelho.”5
Uma semana depois dom Adriano foi sequestrado. Apesar de tal violência, a Diocese não mudou o rumo de trazer a Igreja para a realidade dos povos da Baixada. Toda tentativa de sufocar o projeto Pastoral da Igreja no Brasil foi inútil, pois a abertura aconteceu e ainda maior, pois até hoje se têm órgãos que denunciam as torturas do regime.  Não  se pode negar que a Baixada Fluminense teve a sua vida alterada, uma   região que era um palco de violência contra os direitos humanos e a cidadania na pessoa de Dom Adriano e da Diocese de Nova Iguaçu vem reclamar pelo Direito de ser mais que um espaço  para a participação popular e  mesmo depois da criação das Dioceses de Duque de Caxias e Itaguaí não perde as suas referências de ser a Igreja Mãe da Baixada.
O documento e Puebla em 1979 fortaleceu a opção da Diocese em adotar uma prática, de viver o evangelho na cultura do popular. Quando conhecemos  Dom Adriano, não  tínhamos  a noção do sofrimento que o mesmo experimentou,  por ter colocado em prática o projeto da Igreja do Brasil, seja os seus documentos ou estudos que cada ano se propunha analisar a realidade política nacional.  Neste contexto nasce o centro Sociopolítico que ajuda a conscientizar o povo sobre a questão da política, através de cursos, fóruns e palestras.
 A Igreja Diocesana assume a CF (Campanha da Fraternidade) como uma prioridade, realizando cada vez mais movimentos com a massa, com  celebrações que nos ajuda refletir sobre a nossa consciência critica.  A Diocese apoia a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e outros movimentos que defendem a dignidade da pessoa humana. Para aqueles que conheceram Dom Adriano, nas suas lutas e na sua vida de anúncio do evangelho que: “aqui se começa um novo céu”6 e uma  terra. Não se pode parar o projeto de transforma a Igreja da Baixada  em Igreja  povo de Deus que assume sua caminhada. 
 As relíquias do atentado foram expostas durante todo ano de 1980 e até hoje se encontram expostas(FOTO) à esquerda do altar (próximo ao sacrário), na Catedral de Santo Antônio em Nova Iguaçu7, em um nicho construído para tal finalidade e na Cripta do mesmo endereço onde se encontra o resto mortal de dom Adriano, existe uma exposição sobre a sua pessoa e todo fato aqui narrado. A Diocese se fortaleceu e o país se abriu, e hoje se tem o orgulho de ter participado do projeto de abertura política do país e  de uma Igreja fechada em Igreja do Povo de Deus que assume caminhada.  
No ano de 2010 fizemos celebramos o jubileu de ouro da Diocese de Nova onde fizemos questão de recorda as palavra de   Dom Adriano.     
“Temos que continuar, 
o céu começa aqui; 
Jesus Cristo está conosco. 
Que Deus lhe pague!”
(Dom Adriano *1918-1996) 




[1] Rua: D. Adriano Hipólito  nº 08 – Moquetá / Nova Iguaçu  sobre a responsabilidade do profº Antônio Lacerda de Menezes
2  - entrevista concedida em 19 de abril de 2008 no III encontro de Fé e Política do Rio de Janeiro.
3  - frase dita por  D. Adriano no II sínodo de N. Iguaçu.
4  Evangelho segundo são Mateus; 25,33-40.
5 - De acordo com a ‘’ A FOLHA’’ de março de 1992.
6 - Apocalipse de S. João 21,2-3. 
7 Av: Marechal Floriano centro de N. Iguaçu

VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.


Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.


Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.


Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.


Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.


Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.


FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.


HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.


_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.


Jornal Caminhando. Da Comissão Justiça e Paz ao Centro de Direitos Humanos: 25 anos de caminhada. MENESES, Antonio. Rio de Janeiro, março de 2003.


_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.


MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.


Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.


WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.


Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981


Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970


Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970


P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976


SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006


Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986


Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.



terça-feira, 13 de novembro de 2012

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé - PARTE V


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V - OS ATENTADOS  A DIOCESE  DE NOVA IGUAÇU

Catedral de Sto Antonio.
A Diocese vê a sua estrutura sofre outro atentado em 29 de maio de 1977, onde um grupo espalha ou melhor distribui nas Igrejas da Baixada em algumas Igrejas do Rio o jornal “A Folha” com duras criticas ao  bispo Pedro Casaldaliga, D. Tomás Balduíno e outros que buscavam esta na comunhão da CNBB. Neste Jornal apócrifo   eles era difamados e chamados de comunistas. A Cúria Diocesana de Nova Iguaçu recebe um bilhete dando parabéns pela mudança na abordagem da “A Folha” e  um grupos dentro da própria Diocese davam parabéns ao bispo pela mudança no texto da folha.
Tal atentado teve duas características:
 I - Desacreditar o  trabalho da Diocese que caminhava a passos longos para construção da comissão de Justiça e paz.
II - Semear a divisão entre os membros da Diocese.
Esse   atentado foi de caráter intelectual, haja visto que as ameaças até mesmo o sequestro que o bispo sofreu não pararam o plano da Diocese de apoiar perseguidos e os movimentos populares e as pastorais sociais.(Veja na publicação atentado ao Bispo de Nova Iguaçu)
Neste período de 76 a 79 á Diocese de N. Iguaçu respirava ameaças, pois era comuns os vereadores de Nova Iguaçu, se reunir com os militares e todas as ações da Diocese eram discutida em tais reuniões inclusive os textos do jornal “A Folha”. D. Adriano, Padres e leigos eram ameaçados através de bilhetes, telefonemas. Mas nem por isso a Diocese parava de avançar em direção ao povo que sofre.  No país inteiro havia Bispos, padres e leigos proibidos de se manifestar, sendo censurados pelo sistema, alguns presos torturados ou desaparecidos quando não foram assassinados por algum grupo radical1.
Presbitério da Catedral de stº Antonio
Durante o ano de 79, o Bispo foi ameaçado através de telefonemas por pessoas que o pressionavam até mesmo dentro da Igreja. No dia 10 de novembro de 1979 as Igrejas da Baixada amanheceram pinchadas com mensagens de oposição ao Bispo, e a linha de Pastoral:
"Use a Igreja para o fim que se destina, não para ensinar o comunismo; Bispo comuna” 2
Mensagens como essas foram pichadas na Catedral de Nova Iguaçu e nas outras Igrejas da Diocese de  Nova Iguaçu.  No bairro da Prata, mataram um filhote de pastor alemão que incomodava os pichadores quando executavam a pichação, na referida Igreja, deflagrando um cartucho de munição, usado pelas forças armadas na Catedral de Santo Antônio, foi testemunhada pelo vigia de uma construção que disse ter visto tal cena e que os indivíduos chegaram em carro preto e iniciaram a pichação, sendo que enquanto um praticava a ação, outro vigiava para não serem surpreendidos por ninguém.
Tal ação foi respondida pelo Bispo Diocesano, dizendo que tais pessoas eram incapazes de entender que a doutrina social da Igreja não tem nada a ver, com o marxismo, e não representava uma ameaça para a segurança nacional e sim uma necessidade de se estar no meio do povo para experimentar o sofrimento do pequeno excluído do sistema.
As pichações foram logo removidas pelos zeladores, da catedral e demais paróquias, despertando no povo e no clero como no Bispo uma necessidade de se dá uma resposta à altura, marcando uma missa como resposta iniciada com execução do hino nacional brasileiro e foi enviada uma carta ao ministro da Justiça, Senhor Petrônio Portela, solicitando providências, o povo começa a pinchar as ruas, apoiando Dom Adriano e a sua luta contra a ditadura, e Dom Adriano recebe o apoio dos Bispos, que compõem o Regional  Leste I3, pelo menos de quatro Bispos de forma direta: Dom Waldir, Bispo de Volta Redonda, que respondia a IPM, por incentivar greves e questionar o uso da força para os operários na CSN em Volta Redonda.

  • "Se a luta é do povo devemos apoiar...”4.
Esse lema trouxe Dom Waldir para o apoio a Dom Adriano, enquanto o Cardeal do Rio de Janeiro se via em uma situação complexa, dizendo aos jornais que os problemas de Nova Iguaçu deveriam ser resolvidos pelo Bispo de Nova Iguaçu5
Na missa de segunda feira, 19 de novembro de 1979, a Igreja Mãe da Baixada recebe centenas de pessoas, quatro Bispos e quinze padres na missa que era a maior resposta ao ato das pichações, onde Dom Adriano destacava:

  • "Sempre que a Igreja se coloca ao lado do pobre e oprimido é atacada por um pequeno grupo de burgueses radicais”. 6
Relíquias do atentado exposta  na Catedral de Stº antonio
Tal resposta levou o grupo que fazia a oposição ao Bispo a engrossar a ação, fazendo panfletos de oposição aos Bispos que comungassem em uma proposta de abertura política e ao projeto de construção de um país democrático e mais justo. A missa de 19 de novembro não foi, uma provocação, mas uma manifestação pacífica em protesto a toda ação que representasse ameaça ao projeto de vida e dignidade. Todo o indício da época, que tais atentados foram coordenados com o apoio de grupos ligados ao regime que vigorava no país, pois: a DPPS (Departamento de Policia política Social) não se preocupou em investigar os atentados contra o Bispo ou contra as Igrejas e não assumia que podia ter sido obra de alguém ligado ao, Estado.
Um mês  depois nas ruas de Nova Iguaçu eram distribuído panfletos e cartazes em oposição aos Bispos que comungasse e pregasse a Teologia da Libertação e ainda dizia que a Igreja estava resgatando a bandeira de Prestes, a crítica maior era aos Bispos: Hélder Câmara, Evaristo Arns e Ivo Lorscheiter.
Quando zelador, senhor Ronaldo se aproximava do altar na Catedral, no dia 20 de
dezembro de 1979, às onze horas, uma explosão foi acionada próxima ao tabernáculo sagrado, destruindo por inteiro e danificando as paredes da Igreja Mãe da Baixada. A bomba encheu a catedral de fumaça e logo depois de gente e foi encontrada uma carta datilografada:
·           “Use a casa de Deus para os fins a que ela se destina, talvez seja essa palavra que a sua santidade o Papa lhe dirija em solidariedade. Morte PCB. Ass.: VCC”7.
A carta já fazia menção da visita do Papa João Paulo II no ano de 1980. O professor Silvio, que na época trabalhava próximo, correu como um dos curiosos para o local, porém, antes ligou para o Jornal do Brasil, que segundo o professor dava mais atenção para a esquerda no Brasil, Dom Adriano, chega ao local e convoca uma reunião para se decidir sobre o que fazer e se decidi fechar as Igrejas da Baixada no domingo, 23 de dezembro de 1979, em protesto contra tal ato de violência. O povo vinha rezar e a Igreja estava fechada e estava convocado para uma vigília na Catedral no dia 24 de dezembro, a partir das dezoito horas e o povo respondeu lotando a Igreja Mãe e reza pelos que executaram o atentado, pedindo que tal crime seja apurado pelas autoridades. Novamente, Dom Adriano recebe o apoio do povo, de padres, de Bispos, de associações de moradores e sindicalistas, sem mencionar as diversas Igrejas Evangélicas que lhe enviaram cartas de apoio.
No dia 30 de dezembro aconteceu a grande missa de protesto e desagrado à santíssima eucaristia8, contou com a presença de diversos 'padres, de seis Bispos do Regional Leste I da CNBB , que tinham a função de fortalecer o desejo de um país livre do regime.

  • "Envia tua Palavra I Palavra de libertação que vem -trazer a esperança e ao pobre a libertação”.9.
Esse canto anunciava a leitura do Evangelho do dia dedicado a Sagrada Família,  e   a   pregação  foi  um  momento   de  partilha  realizada   pelos   Bispos  presentes: Continuemos nesta luta, nesta caminhada de fidelidade ao Cristo, no irmão mais pobre, oprimido e não podemos ter medo”, palavras de Dom Adriano no meio de sua pregação dando força e coragem para o povo que estava presente.
E Dom Waldir confirmava sem a luta e do povo organizado não  teriamos um país livre, precisa-se continuar para que a mudança aconteça. A proposta de uma Igreja envolvida nas lutas sociais, nas mudanças sociais, onde o próprio Cristo foi imolado devido ao orgulho e o egoísmo de uns poucos que desejam se manter no poder para continuar a explorar o povão que não percebe que pelo qual motivo tiveram a coragem de profanar o santíssimo sacramento.
Logo após a missa foi realizada uma procissão pelas ruas de Nova Iguaçu, reunindo uma multidão de fiéis, seis Bispos e uma centena de padres, que lamentava tal atentado.




1 - Jornal Luta Democrática, página 03 e Jornal do Brasil, 2º caderno de 23 de novembro de 1979 - página 05.
2  - De Acordo com Pe Monteiro(na  época um dos principais colaboradores da Diocese) e sr Ronaldo  ( na época  sacristão e zelador da Catedral).
3 - Bispos do estado do Rio de Janeiro na época com oito dioceses
4 - Frase ainda hoje usada pelo referido Bispo, ouvida pelo autor no encontro de Leigos Católicos do Rio de Janeiro no ano de 1998, em Valença- RJ .
5 - Jornal O Globo, 12 de novembro de 1979.
6  -  Conforme documento arquivado na Cúria Diocesana de N. Iguaçu.
7 –  Esse é o um trecho da carta que está arquivada na Cúria Diocesana (Rua D. Adriano Hipólito n 8 Moquetá – N. Iguaçu).
8 -Para os católicos e o próprio Deus. Jesus sendo o sacramento principal da igreja, tal atentado foi um sacrilégio.
9 – Toda A liturgia de 30/12/79 esta no arquivo diocesano.  ( Rua: Adriano Hipólito n 8  Moquetá – N. Iguaçu), inclusive os discursos realizados pelos Bispos.


VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

A Folha. Recordando a Bomba de Dezembro. Rio de Janeiro, março de 1980.

_____________. Lições Sobre o Salário. Rio de Janeiro, maio de 1982.

Caderno Fé e Política. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Reproarte, 1992.

Camurça, M. Cristãos e comunistas: uma experiência de martírio. In Bingme, M. C. e Bartholo, R. (org). Exemplanidade ética e Santidade. São Paulo: Loyola, 1994.

Comunidades Eclesiais de Base no Brasil: experiências e perspectivas. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.

Com Causa: alternativo 19. A Cultura do Extermínio na Baixada. DIAS, Adriano. Rio de Janeiro, janeiro de 2007.

Dignidade Humana e Paz: Novo milênio sem exclusões. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.

FRISOTTI, Heitor. Passos no Diálogo: igreja católica e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Paulus, 1996.

HIPÓLITO, Adriano Dom. O povo de Deus assume a caminhada. Petrópolis: Vozes, 1983.

_____________. Primeiro Sínodo Diocesano de Nova Iguaçu 1987-1992. Nova Iguaçu: Diocese de Nova Iguaçu, 1992.

Jornal Caminhando. Da Comissão Justiça e Paz ao Centro de Direitos Humanos: 25 anos de caminhada. MENESES, Antonio. Rio de Janeiro, março de 2003.

_______________. Quem é Felipe Aquino. ANTONIO, Pe. Carlos. Rio de Janeiro,junho de 2007.

MESTES, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981.

Violência e Religião: cristianismo. islamismo e judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2001.

WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

Revista de cultura vozes. D. Adriano exclusivo, Petrópolis: janeiro-fevereiro, vozes.1981

Caderno de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu. Dez anos de diocese. 1960-1970

Pe. Dinarte Duarte Passos. Edições da diocese de Nova Iguaçu 1970

P, Fernando. Outros (org.). As relações Igreja-Estado no Brasil. Volume 4. Durante o governo do general Geisel. 1974-1976

SOUZA, Marcelo de Barros e outros. Curso de verão. Ano III. 2ª edição. Cesep – ed. Paulinas - 1989

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, temas de doutrina social da Igreja, caderno 1, Projeto Nacional de Evangelização queremos ver Jesus. 2ª edição. Paulinas – SP - 2006

Arns,D Paulo Evaristo prefacio. Brasil nunca mais. 13ª edição. Vozes Petrópolis - 1986

Seminário,UFRJ,UFF,OUTRAS. 1964-2004 40 anos do Golpe. Ditadura Militar e Resistência no Brasil. Niterói/Rio de Janeiro –2004.

A IGREJA DE NOVA IGUAÇU NO REGIME MILITAR: Atentado a Fé PARTE IV


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IV - ATENTADO AO BISPO DE NOVA IGUAÇU 

Dom Adriano com As Irmãos Clarissas
Aos 30 minutos do dia 23 de setembro, a Rádio jornal do Brasil recebeu telefonema de pessoa que mandou tomar nota de uma mensagem com rapidez, pois ia desligar em seguida :
  •  “Bispo Dom Hipólito Mandarino acaba de ser sequestrado, castigado e abandonado num subúrbio da zona norte o carro dele foi mandado como aviso para a CNBB. O jornalista Roberto Marinho também acabou de receber advertência tudo da aliança anticomunista brasileira.”1
Nu, com pés e mãos amarrados, banhado de mercúrio cromo e seviciado, o bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, 52 anos, foi encontrado às 21h30min na rua Japurá, em  Jacarepaguá, duas horas depois e  ter sido sequestrado  Às 23h30min, o carro do bispo explodiu em frente à sede da  CNBB,no Largo da Glória, e aos 30 minutos de hoje, uma bomba foi jogada na casa n.1105 da rua Cosme Velho, residência do Sr. Roberto Marinho2 .
Duas pequenas retificações: o carro que explodiu era de Fernando, sobrinho de dom Adriano, que dirigia o carro quando os dois foram sequestrados. A bomba jogada no Cosme Velho “não (o foi) exatamente  na casa de Roberto Marinho, mas sobre o telhado da casa onde dormem empregados da família. A explosão destruiu telhas e vidraças, e alguns estilhaços feriram o copeiro Antônio de Queiroz,22 anos,e Darci Alves Farias, que dormiam no 2.º andar. Antônio precisou ser medicado no hospital  Miguel Couto, mas  foi liberado em seguida.”3
Um garoto viu bem quando o Volkswagen parou em frente à porta do prédio da
CNBB, no largo da Gloria, e dele saíram dois homens. Eles jogaram um pacote sob o carro, afastaram-se correndo e ainda deixaram um envelope sobre um monte de terra, antes de desaparecerem em meio à confusão que se formou após a explosão. Eram 23h30m, e foi o garoto quem levou os policiais até o local onde estava o envelope. O carro era o mesmo Volkswagen vermelho, placas EB 7591, de Nova Iguaçu, pertencente a Fernando Leal Webering, sobrinho de dom Adriano Mandarino Hipólito.
No envelope, uma mensagem assinada pela Aliança Anticomunista Brasileira - AAB, anunciando que outras autoridades eclesiásticas, consideradas comunistas, serão alvo de atentados semelhantes. A leitura da mensagem, não liberada à imprensa, mudou completamente o comportamento dos policiais em relação aos jornalistas. Os fotógrafos foram impedidos de continuar tirando fotos do automóvel destruído e alguns perderam filmes já operados.
Entre as ferragens retorcidas pelo fogo, os policiais encontraram uma camiseta branca e uma calça preta – pertencentes ao bispo -, além de documentos e cerca de 500cruzeiro em cédulas chamuscada4 .
Quanto ao seqüestro, o próprio dom Adriano, em entrevista coletiva  desse mesmo mês, distribuiu o relato por ele redigido:  
Na quarta-feira , dia 22 de setembro, pelas 19 horas, saí do meu gabinete na cúria diocesana. Tinha acabado o expediente normal meia hora mais tarde. O último atendido então foi nosso operário Fidelis que foi assaltado no domingo anterior e vinha pedir um adiantamento em dinheiro.
Desci à galeria, mas fiquei conversando ainda uns dez minutos com Pe. Henrique e Pe. David, da catedral. No meu Volkswagen sedan já estavam sentados meu sobrinho Fernando Leal Webering, ao volante, e, no banco traseiro, sua noiva Maria Del Pilar Iglesias.
Pelas 19h45min, despedi-me, entrei no Volks ao lado de Fernando e saímos. Tomamos o caminho de todos os dias. Sem notar nada de extraordinário. Íamos para casa, no Parque flora. Pilar, que aproveita todas as tardinhas a carona, ficaria no caminho, na rua Paraguaçu.
Ao entrarmos na rodovia Presidente Dutra (direção de São Paulo), um pouco
depois do Km 15, como um caminhão passasse em alta velocidade, tivemos de nos manter
no acostamento. Aí estava parado um Volkswagen vermelho, que atrapalhou um pouco a nossa entrada na Dutra. Passamos do acostamento para a rodovia e parece que o VW vermelho seguiu atrás de nós.  Passamos sob o viaduto que liga a rua Roberto Silveira com a estrada de Ambaí e o bairro da posse, mas, como fazemos nos últimos meses para evitar um cruzamento perigoso e muito movimentado da praça da Posse, seguimos até o posto de gasolina e dobramos à direita, pela rua Minas Gerais. Continuamos por essa normalmente. No ponto onde a rua Minas Gerais corta a rua Gama, na esquina à esquerda, estava parado um carro de faróis acesos que procurou avançar com rapidez na nossa frente. Fernando avançou mais rápido, pelo que o repreendi. Dobramos, como sempre, à direita, pela rua Gama, daí entrando pela esquerda na rua D. Benedita. Dois carros nos seguiam. Fernando observou: “Parecem malucos, ou estão brigando”. Eu acrescentei: “Apresse mais para a gente não se envolver na briga”. Ele acelerou e assim entramos à esquerda, na rua Moçambique. Nesse momento, um VW vermelho nos fechou. Paramos um instante e olhamos indignados. Logo recomeçamos a viagem, sem ainda perceber a situação real. Eu estava certo de que era mesmo uma briga dos dois carros. Galgamos a rua Moçambique, que é ladeirosa e curta, e no topo dobramos à direita para a rua Paraguaçu, que é onde mora Pilar, no fim, na penúltima casa antes de entrar na estrada de Ambaí. Eu disse a Fernando que se aproximasse mais do meio-fio para Pilar poder saltar sem perigo e os Briguentos poderem passar sem nos incomodar. Uns cinco metros antes do portão de Pilar, o VW vermelho nos cortou pela frente e um outro carro pelo lado. Saltam cinco ou seis homens armados de pistolas, ameaçadores, e se aproximam do nosso carro. Do meu lado grita: “É um assalto. Saia logos senão eu atiro”. Hesitei um pouco, tentando saber de que se tratava. Com palavrões, abriu a porta do meu lado e me puxaram.tropecei e caí, perguntando ainda: “Meu irmão, o que foi que eu lhe fiz?”    Com brutalidade, dois elementos me arrastaram e me atiraram no banco traseiro do carro deles, com pancadas na cabeça e no corpo para eu me acachapar. Ainda vi por dos ou três segundos a cara do que ia no volante, chamando-me atenção os óculos quebrados sem aro. O outro elemento, da cara redonda e rude, tinha as faces marcadas por cicatrizes de espinhas infeccionadas. Julgo ter visto ainda Pilar imóvel na frente do portão da casa dela e algumas pessoas, imóveis também, nas portas da padaria que fica logo depois da casa de Pilar, na esquina da rua Paraguaçu com a estrada de Ambaí.  Logo o elemento que estava ao lado do motorista se virou com pancadas para mim e me encapuzou. O capuz era de fazenda grossa, parecendo lona. Senti-me asfixiar. Amarrou o capuz, mas ainda pude ver as algemas: eram pretas, talvez de ferrugem. Ainda me algemando, deram o arranque com toda violência, sempre me batendo na cabeça e no corpo para eu me abaixar. Logo me algemou, primeiro no pulso do braço direito e depois na mão esquerda. Senti que viraram pela estrada de Ambaí, na direção de Nova Iguaçu. Sempre me batia, soltando palavrões. A cena na porta da casa de Pilar deve ter durado uns oito a dez minutos e foi muito violenta.
Depois de uns poucos minutos de encapuzado, com as voltas do carro sempre em disparada louca, perdi totalmente a noção de espaço. Não consegui um só instante identificar os lugares por onde passávamos. Andamos por estrada asfaltada e por estrada de barro. Sempre em alta velocidade. Parecia uma viagem de loucos. Logo no começo, ouvi o elemento da direita dizer para o motorista: “Este serviço vai render quatro milhões”.
Daí a pouco, começou a me apalpar, à procura talvez de arma ou de carteira. Como não encontrasse nem uma nem outra, começou a cortar os botões de minha batina, um por um. E quando descobriu os bolsos, esvaziou-os: num eu tinha lenços, os óculos de leitura e um terço. No outro, a agenda de bolso, com meus documentos e algum dinheiro e ainda lenços. Tirou tudo o que encontrou.
 Depois de corrermos como loucos uns trinta ou quarenta minutos, paramos (antes tinha feito duas ou três paradas). Saíram do carro e daí apouco mandaram que eu saísse também: “Saia”... (com palavrões). Saí puxado. A primeira coisa que fizeram foi tirar toda a roupa, deixando-me inteiramente nu. Aí então tenteou enfiar-me na boca o gargalo de uma garrafa de cachaça. Senti nos lábios o gosto e resisti. Não insistiram, mas um derramou a cachaça no capuz. Senti-me asfixiar e caí no chão estrebuchando. Pensei que ia perder completamente os sentidos, mas aos poucos me recuperei. 
Eu estava deitado, no lado esquerdo, num chão irregular de pedra e gravetos. A uma distância de 50-100 metros ouvia-se passar algum carro, devíamos estar assim perto de uma estrada. 
Começaram os insultos e provocações. Havia um que rugia como fera. Outro me disse: “Chegou tua hora, miserável, traidor vermelho. Nós somos da Ação (não me recordo se disseram Ação, Aliança ou Comando) Anticomunista Brasileira e vamos tirar vingança. Você é um comunista traidor. Chegou a hora de vingança para você, depois é a hora do bispo Calheiros de Volta Redonda, e de outros traidores. Temos a lista dos traidores”. Depois acrescentaram: “Diga que é comunista, miserável !” “Não sou nem serei comunista. O que eu fiz foi sempre defender o povo.” 
A certa altura ouvi, numa distancia que calculo de 20 metros aproximadamente, a voz de Fernando que gritava: “Não façam isso comigo, eu não fiz nada” (...) Tive a impressão de que estavam batendo nele. Resolvi então falar: “Deixem o rapaz, ele não tem culpa de nada. O que foi que ele fez ?” Repeti ainda outra vez estas ou palavras semelhantes. Alguém retrucou “que na (...) quem ajuda comunista é comunista (...)”
Começaram a lançar spray no meu corpo. Eu sentia o borrifar e o frio do spray. Tinha um cheiro acre. Pensei que iam me queimar. 
Escutei alguém dizer: “É pra cortar”. Depois me disseram duas vezes: “O chefe deu  ordem pra não matar,você não vai morrer não. É só pra aprender a deixar de  ser comunista”. Houve um silêncio mais prolongado e então me deram ordem de entrar novamente no carro. A cena tinha durado entre 30 a 40 minutos.
 Empurraram-me, todo nu, para dentro do carro, novamente no banco traseiro. Sempre encapuzado e algemado. Fizeram-me acachapar ao máximo no banco sempre à custa de pancadas, depois, colocaram por cima de mim umas tiras do que acho que tinha sido minha batina.
O carro arrancou. Quem falava agora no volante era um elemento de voz fanhosa. O outro indivíduo, ao lado falava enrolado, dava berros selvagens, como que para amedrontar. Recomeçou uma corrida selvagem, como anteriormente. O elemento da direita começou a abrir as algemas, o que conseguiu com muita dificuldade. Depois me amarrou fortemente com cordas, primeiro as mãos. Com a ponta da mesma corda desceu até os meus pés e amarrou fortemente também os tornozelos. 
Senti que andáramos correndo por estrada asfaltada ou de paralelepípedos ou de barro. Às vezes, estávamos mais perto de lugar mais habitado, pois eu ouvia vozes de crianças ou latidos.paramos duas vezes. Em certo momento, julguei que estávamos perto de minha casa, pois os latidos dos cachorros pareciam conhecidos. Sempre em corrida louca. Não falavam. Apenas o elemento da direta acomodava de vez em quando os trapos da batina sobre mim, parece que para eu não ser visto. Devemos ter andado uma meia hora. Paramos,  então. 
O elemento da direita saiu do carro e me deu ordem de sair. O motorista ficou no carro, que estava ligado. Puxou-me para fora com violência. Só podia sair arrastado, porque a corda me tolhia o movimento. Devia ficar de cócoras, assentei-me no estribo. Aí o sujeito me deu uma pancada no pescoço, dizendo: “Baixa a cabeça (...)” Nesse momento, passa na rua um carro pesado. Com um safanão violento me atirou na calçada. Caí deitado. Quando me voltei, o carro tinha arrancado com violência. Notei que era vermelho. Foi só antes dessa pancada no pescoço que me retiraram o capuz. 
Nu e atado fiquei na calçada. Era uma rua ajeitada, com pouca luz, lembrando alguns bairros de Nova Iguaçu. Na casa defronte, uma luz fraca saía da janela. Tentei desamarrar a corda, mas os nós estavam muito apertados. Passa um carro da esquerda para a direita, bem perto de mim. Faço um gesto com as mãos amarradas. Vêem, mas não param. Do outro lado, vejo andando três mulheres. Preferi não fazer sinal nenhum. Passa um segundo carro da esquerda para a direita também, não me vê. Nisso se aproxima, do lado da rua em que me encontro, um rapaz. Chega-se perto de mim e eu peço: “O Sr. Pode me desamarrar? Eu sou padre e fui assaltado”. Começa a me ajudar. Nisto chega, vindo da direita, um carro que pára e pergunta: “o que é que aconteceu?” Digo o que foi. Um senhor salta, vem me ajudar a cortar as cordas e pergunta o que eu preciso. Respondo: “Uma calça”. Ele promete ir buscar, mora perto. Eram cerca de 21h 45min. 
Juntaram-se alguns homens que me perguntaram o que aconteceu. Tento explicar. Não entendem os nomes das ruas e dos bairros. Pergunto então: “Em que bairro de Nova Iguaçu a gente está?” Acham certa graça e respondem: “O senhor está em Jacarepaguá”. Perguntam ainda se estou ferido. Aí descubro que o spray me deixou todo vermelho. 
Daí a pouco, o senhor voltou, trazendo- me uma calça e um blusão. Convida-me em seguida a ir ver o padre da paróquia. Diz que é perto. Despeço-me das pessoas que me ajudaram e mostraram interesse por mim, entro no carro e seguimos. Aí o motorista se revela como reporte fotográfico da Manchete, Sr. Adir Mera. Revelo-me como bispo de Nova Iguaçu. E acrescento em tom de brincadeira: “O senhor aproveite o furo”. Ele responde que agiu por solidariedade, que neste caso não é reporte, que é espírita, mas que todos devemos fazer o bem etc.
Chegamos a casa paroquial na praça seca. O vigário demora a atender. Neste momento, passa uma Rural. Adir descobre na Rural um amigo major do Exército, a quem comunica o ocorrido. Acham necessário irmos à delegacia de Madureira para declarações à polícia. Aparece Pe. Pedro, vigário da paróquia, que me conhece de nome e estranha minha situação. 
Na Rural, que estava fazendo propaganda eleitoral, entro com o Sr. Adir e o major Kunner. Vamos a 29.ª delegacia. O delegado Ronald me ouve, acha de início que se trata não de assalto, mas de crime político e afinal declara que a jurisdição, no caso, compete a Nova Iguaçu. Seriam 22h30min. Foram chegando alguns padres de Nova Iguaçu, acompanhados de vários leigos, amigos meus. Faço algum relato. Vêm repórteres. Vem um funcionário do DOPS, declarando que meu caso está sob a alçada do DOPS. Era mais de meia- noite, quando saímos ruma ao DOPS, dois funcionários dessa instituição de segurança, o Sr. Adir, Pe. David Keegan, da catedral, e eu. Vamos num veículo do DOPS. No DOPS, fui interrogado por Dr. Borges. Soube então que o meu VW tinha explodido na frente da CNBB e que meu sobrinho Fernando tinha sido encontrado. Ele e a noiva estavam a caminho do DOPS. Durante meu depoimento-interrogatório, avisaram que o Sr. Núncio apostólico queria me ver. Como demorassem em atende-lo, entrou de repente na sala de depoimento para me cumprimentar e trazer-me solidariedade. Depois saiu da sala, dizendo que esperava por mim até o final do interrogatório.
Depois de três horas, chegaram Fernando e Pilar. O delegado, Dr. Borges Fortes, mandou Fernando para o hospital Souza Aguiar para fazer exame. O depoimento deles dois ficaria para mais tarde. Meu depoimento deve ter durado cerca de hora e meia e foi gravado. O delegado fez depois um apanhado que li e assinei. 
Terminado o depoimento, fui ter com o Sr. Núncio apostólico. Pelas três e meia, saímos, Pe. David e eu, com o Sr. Núncio apostólico. Fomos primeiro à sede da CNBB para cumprimentar o secretário, dom Ivo Lorscheiter. Diante da sede da CNBB, estava meu VW quase que completamente destruído. 
Conversamos um pouco com dom Ivo e, da CNBB, seguimos para o colégio Santa Marcelina, no Alto da Boa Vista, onde ficamos hospedados com o Sr. Núncio. 
Na parte da manhã, recebi a visita do cardeal dom Eugênio, do arcebispo de Niterói, dom José Gonçalves da costa, do bispo auxiliar do Rio de Janeiro, dom Eduardo koaik, com este ultimo fui ao oculista, pois se perderam meus dois óculos no seqüestro. Em seguida, me retirei para o Centro de Estudo do Sumaré, a convite de dom Eugênio, para repousar5 
Uma dúvida,pergunta o repórter: Por que dom Adriano? O que tal pessoa pode ter feito para sofrer tal ato de violência e ainda mas o “Jornal da tarde”, no dia seguinte ao seqüestro, sugeria a resposta ao escrever “As lutas de dom Hipólito”.
O povo tem medo da polícia. Muitas pessoas têm mais medo da polícia que dos bandidos, pois enquanto estes agem na ilegalidade, os policiais têm à sua disposição metralhadoras, carros com sirene e a certeza da impunidade. O bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, fez essa declaração em 1975, quando começou uma campanha contra o Esquadrão da Morte, apesar de saber os riscos que corria. Mas acreditava que era seu dever cristão usar sua posição e seu título para falar pelos que não podem.
No plano Pastoral que elaborou para o ano passado, dom Adriano Hipólito – que está em Nova Iguaçu desde 1966 – incluiu a necessidade de tomar providências para acabar com o clima de violência e incertezas em que vivem os moradores da Baixada Fluminense. O bispo justificava, inclusive, as depredações de trens e estações da central do Brasil, ocorridas pouco antes de iniciar sua campanha, como uma “compreensível válvula de escape desses homens da Baixada, que se sentem perpetuamente inseguros e desamparados”.  Há muitos anos, dom Adriano Hipólito vem lutando contra a violência policial em Nova Iguaçu. Em 1970, enquanto o delegado Péricles Gonçalves foi nomeado para a cidade, anunciando que “a ordem era matar todo e qualquer bandido”, o bispo foi procurar o governador Raymundo Padilha, recém-empossado, para saber o que significava aquela ordem. O governador respondeu apenas: “Essa deve ter sido uma ordem superior”.
Em 1973, dom Adriano voltou ao palácio do governo para pedir que o então delegado de Nova Iguaçu, Luís Gonzaga lima, fosse mantido no cargo, porque era um homem honesto, disposto a acabar com a corrupção da polícia. O governador não recebeu , mas seu chefe de gabinete, Mário Gliosci (depois envolvido em escândalos de corrupção), garantiu-lhe que o delegado seria mantido. Mas não foi.  Em campanha, o bispo contestava a tese da polícia da Baixada fluminense de que as mortes atribuídas ao Esquadrão da morte não passavam do resultado de lutas entre quadrilhas de bandidos.
“Se aceitarmos essa tese, estaremos afirmando que quase toda a população faz parte de quadrilhas, pois o número de mortes é muito grande. A grande maioria da população de Nova Iguaçu (1,3 milhão de pessoas) é realmente marginal, no sentido de que não tem acesso aos benefícios do desenvolvimento. Quase todos ganham apenas um salário mínimo e vivem em péssimas condições. Mas não são bandidos perigosos, como muitos dizem.”
Dom Adriano Hipólito denunciou uma série de arbitrariedades cometidas pela polícia da Baixada  Fluminense: as prisões para averiguações, às confissões sob espancamento, as invasões de domicílio. Contou que um padre de São João de Meriti viu um carro da polícia jogar dois corpos numa estrada semidesertas. E disse que os membros do Esquadrão da Morte, quase todos policiais e alcagüetes – segundo as informações que possuía -, eram destituídos de espírito cristão e, por isso, capazes de matar um operário detido por falta de documentos.
Em 1975, dom Adriano declarou:
·         A Igreja pode ajudar a resolver certos problemas da comunidade, embora deva um esforço apenas subsidiário. A tarefa principal cabe à política, se entendia como arte e ciência de promover o bem comum. Quanto ao Esquadrão da Morte, porém, todo cidadão tem a obrigação de se empenhar para descobrir o que há por trás desses crimes”6
Os jornais do dia 24 estampavam desde logo uma nota oficial do comandante do I Exército, nos seguintes termos: 
1. O comando do exército, em face dos acontecimentos ocorridos na noite de ontem e na madrugada de hoje, envolvendo o bispo de Nova Iguaçu e a  residência do Dr. Roberto Marinho, tem o dever de esclarece: 
 a) O exército, como o povo brasileiro, tem a firme consciência democrática e, conseqüentemente, condena e combate qualquer atividade extremista. 
 b) Fatos episódios criminosos não afetam a tranqüilidade e paz existentes na área.
2. O governo do Estado do Rio de Janeiro, através de sua secretaria de Segurança, está empenhado na apuração das responsabilidades, tendo aberto o competente inquérito policial.
3. A confiança no governo e na ação das forças legais deve continuar sendo a tônica do comportamento de todos.7
Por sua vez, solicitado pelos repórteres, o ministro da justiça, Armando Falcão, ao sair de um encontro com o presidente Geisel, ditou a seguinte declaração: “o governo repudia” com veemência os crimes praticados, inteiramente contrários à formação e a índole do povo brasileiro. Condena-os, partam de onde partirem. Estamos acompanhando as diligências de âmbito estadual, para descoberta da autoria e punição legal dos eventuais responsáveis”8.
Pouco antes, ele já havia declarado a mons. Afonso Hammes,que o procurou em seu gabinete, em nome da CNBB, “para apresentar a versão oficial dos acontecimentos, a máxima colaboração das autoridades no sentido de apurar e punir os responsáveis”9.
    O “Jornal da tarde”, nessa mesma edição de 24 de setembro, resume bem o protesto dos políticos, em todo o país, pondo em destaque os membros do congresso que presidem o mesmo, como também os presidentes do MDB e da Arena:  Em todo país, os políticos condenaram os atentados da última quarta-feira. Os protestos mais  Veemente partiram do congresso. O senador Magalhães Pito, presidente do senado, por  exemplo, disse que “todos nós  devemos nos unir na condenação aos episódios e no prestígio ao governo no combate a eles”. E só estranhou um fato: “È estranho que peguem,ao mesmo tempo ,um bispo que dizem de esquerda e joguem bomba na residência do jornalista Roberto Marinho, que é veemente na condenação das esquerdas, muito nítido nesta posição”.
O  MDB disse quase tudo pela palavra do deputado Ulysses Guimarães, presidente do partido: “O MDB participa  inteiramente das preocupações de todo o país, no repúdio às ações terroristas verificadas no Rio, contra o bispo de Nova Iguaçu, contra a CNBB e contra a residência do jornalista Roberto Marinho, esperando que o governo atue vigorosamente na apuração das responsabilidades”.
O senador Franco Montoro e o deputado Laerte Vieira, líderes da oposição no senado e na câmara, respectivamente,preferiram nada falar , explicando que a condenação de tais atos “é óbvia”.  No senado,um discurso do senador Evandro Carreira (MDB-Amazonas) gerou até confusão e censura: carreira relacionou todos os atentados ao recente pronunciamento do ex-senador Flávio Brito, também do Amazonas, contra a CNBB, quando acusou a Igreja de jogar empregados contra patrões. No momento em que terminou o discurso, Benjamin Farah, que presidia a sessão  naquele momento, encerrava-a rapidamente, e em seguida apareceu um pedido para a taquigrafia: estava proibida a distribuição das copias do discurso aos jornalistas. O deputado Francelino Pereira, presidente nacional da Arena, disse que “ato dessa natureza, de direita ou de esquerda, não pode receber e não tem o apoio do povo brasileiro”, e anunciou que “todas as medidas foram tomadas pelo governo do Rio, no sentido da apuração imediata dos fatos e a punição dos culpados”10 .
 A ABI e a OAB, que também já sofreram atentados – não esclarecidos aliás – assim como os Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e de Minas Gerais deram declarações repudiando esses atos de terrorismo.11
A TFP emitiu nota da qual destacamos:
A TFP manifesta a sua mais categórica repulsa aos atos de terrorismo praticado contra a pessoa do Sr. Bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Mandarino Hipólito e a CNBB, bem como contra a residência do jornalista Roberto Marinho.
 Entidade cívica inspirada em seu pensamento e sua ação pela doutrina católica, a TFP repudia com especial energia a violência – merecidamente qualificada como sacrílega pelo Direito Canônico – contra a pessoa sagrada de um bispo da Santa Igreja. E verbera igualmente as ações delituosas de que foram vítimas um parente de S. Ema. e um empregado doméstico do Sr. Roberto Marinho...
 Assim também o fez a União Cívica Feminina:                                                                                                                                                    ABI, OAB, CEBRAP, CNBB, dom Adriano  Mandarino Hipólito,Roberto Marinho... a marcha ascensional da  violência faz crescerem a cada dia as nossas apreensões e insegurança.                     
A União Cívica Feminina, acreditando interpretar os sentimentos da família brasileira, manifesta de público sua  inconformidade e seu repúdio a estes atentados terroristas.                              
  Dirigimo-nos às autoridades incumbidas de prevenir e punir a violência, na certeza de que à sua atuação deveremos somar a nossa, a dos cidadãos consciente, visando evitar a anarquia.             
A violência, seja ela praticada com  finalidade ideológica, política ou simplesmente propagandística, constitui uma forma  de criminalidade. 
A violência, seja moral ou material , consiste em agressão da hora ou efusão de sangue; proceda de qualquer setor da opinião pública, direita, centro ou esquerda , é sempre condenável12.
“O estado de S. Paulo”, em editorial do dia 24, em busca a significação profunda dos atos de terrorismo que se vêm sucedendo desde o mês de agosto. Vale a pena transcreve-lo na íntegra: O traço mais profundo dos processos terroristas é a vileza de quem os emprega, a sordidez das armas que empunha. Na escala invertida de valores de um terrorista, a felonia ocupa um dos primeiros lugares: a felonia de fazer a guerra sem decreta-la, de arremeter contra a vítima sem pronunciar-se antes como adversário. A guerra não lhe interessa, aliás, na medida em que mesmo esta se constitua num jogo de regras estabelecidas e em que se assemelhe a uma competição. Interessa-lhe mais o clima de guerra que a própria guerra; o desespero, mais do que o desafio; o atentado, mais do que os próprios danos materiais ou pessoais. Esse traço, evidente nos atos criminosos ocorridos a partir do mês passado, se reproduz agora no seqüestro do bispo da diocese de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, e do sobrinho que o acompanhava, e no atentado contra a residência do jornalista Roberto Marinho. Perpetrados no mesmo dia, quase simultaneamente e escolhendo vítimas em setores díspares de atividade, os atentados mostram que visam a um círculo muito mais amplo e a setores mais altos: eles visam à própria nação, no momento em que se prepara para uma das práticas da normalidade democrática,a realização de eleições. É inútil, pois, o anonimato que essa autodenominada Aliança Anticomunista Brasileira propicia. Assim como é pernicioso, faccioso e conivente o despistamento de alguns que pretextam a inexistência de tal entidade, a fim de minimizar os fatos.
Os atentados levam a assinatura da inconformidade, do horror do radicalismo à normalização. Não se tolera nem mesmo um processo de lenta e gradual distensão, não se tolera o advento de uma disputa, embora cercada de limitações, rigidamente enquadrada em suas manifestações e embotada no interesse que deveria despertar.A incompatibilidade e ojeriza às liberdades é o primeiro aspecto a se deixar bem claro nesses atentados todos: atentou-se contra a imprensa, contra as regras de administração da justiça, contra uma instituição de pesquisa e contra um representante de uma confissão religiosa.
O nexo entre uma liberdade e outra, da liberdade de expressão à de defesa, da liberdade no acesso à informação à liberdade de crença e profissão religiosa, é que incomoda: o radical não sabe conviver com liberdade alguma e se desespera com a solidariedade existente entre as liberdades. É preciso, portanto, ferir e intimidar ora uma, ora outra, para afinal se lesar a liberdade como um todo. Eis o aspecto fundamental a se levantar, antes mesmo de querer emprestar aos atentados esta ou aquela cor ideológica. No momento, trata-se menos de uma ideologia que de uma contra-ideologia, a contra-ideologia liberticida, venha ela de onde vier. Insinuando que mais vale o ardil, a emboscada e a intimidação, tais gestos pretendem evidentemente desmoralizar todo e qualquer processo político, seus responsáveis maiores e advogados. Compreende-se, portanto, a mobilização ordenada pelo próprio presidente da República, para que os fatos sejam prontamente apurados e seus autores, descobertos: eles são um desafio à palavra empenhada nas eleições. Compreende-se que ambos os partidos se juntem no repúdio e na denúncia, junto com o escárnio feito ao processo eleitoral vai o escárnio ao sistema partidário, o nosso, ou qualquer outro., Protelar a investigação ou impor tibieza à liberdade de debates que nem bem se travaram é açular a ousadia. É inaceitável compor-se, por uma ou outra forma, com a provocação que aí está. O mal foi que se tivesse dado azo à provocação, sustentando-se a necessidade de radicalização. O mal foi proclamar a inexorabilidade de uma vitória, com reticências sobre os processos de luta-se a vitória era para ser conquistada, ou simplesmente garantida de antemão. Esse mal foi feito; e durante bastante tempo, até mesmo para a habitual paciência e fair-play de democratas. Urge agora  repara-lo. Se a pronta e  exemplar punição dos culpados  faz parte das regras do jogo, igual  eficiência, presteza e seriedade se hão de exigir nos caminhos que levam até lá. Se a lei feita para todos não for  sobre todos igualmente aplicada, deixará de ser lei para ser uma irrisão. A irrisão dos  criminosos é opróbrio dos que, pôr amor à liberdade, se submetem à lei13.     Meia hora depois de dom Adriano ter deixado a cúria e ter conversado com Pe. Henrique, vigário da catedral de  Nova Iguaçu, este último voltaria a ter notícias do bispo por Maria Del Pilar, noiva de Fernando, e que havia presenciado o seqüestro. Ela entrou chorando em sua casa. A partir desse momento, eram 22 horas do dia 22 de setembro, “a catedral de Nova Iguaçu esteve cheia entre 22 horas de quarta-feira e 2 horas de ontem: eram fiéis interessados em saber sobre o destino do bispo da diocese, cujo seqüestro fora rapidamente noticiado.... Enquanto a multidão de fiéis permanecia na igreja, uma comissão de homens escolhidos entre os participantes de vários grupos que se reúnem na sede... cada semana, partiu para o Rio, logo que foi noticiado o aparecimento do bispo... Durante todo o dia de ontem, a secretaria da catedral recebeu telefonemas de todo o Brasil”14.
Nesse mesmo dia, a presidência e a CEP da CNBB distribuíam a seguinte nota oficial, que damos na íntegra:

A opinião publica de todo o Brasil foi informada do ato de terrorismo ocorrido ontem à noite, do qual foram vitimas dom Adriano Hipólito e seu sobrinho, Fernando Leal Webering, cujo carro foi feito explodir posteriormente diante da sede da CNBB. A presidência da CNBB, reunida com a Comissão Episcopal de Pastoral, em sua sessão ordinária, julga de seu dever pronunciar-se a respeito:

1.    Manifestando de público sua mais incondicional solidariedade com seu irmão no episcopado, dom Adriano, que na Igreja de Nova Iguaçu vem dando admirável exemplo de testemunho cristão em favor dos desvalidos, incluindo na mesma solidariedade o seu sobrinho Fernando;

2.    Reafirmando que considera uma gloria para a Igreja no Brasil o fato de seus filhos serem objeto da sanha daqueles que, no seu fanatismo primário, são incapazes de compreender o profundo sentido cristão do compromisso com os oprimidos, confundindo-o com inspirações ideológicas que radicalmente repudiamos. A Igreja conhece a sordidez das armas empregadas contra seus filhos, e num fato como esse, na seqüência de outros fatos sangrentos, longe de se  atemorizar, ela se enche de júbilo, na certeza de ser julgada digna da milenar tradição daqueles que selaram com o sangue o seu testemunho cristão.

3.    Agradecendo, em nome das vítimas, as inúmeras provas de solidariedade que vem recebendo de todos os recantos da Brasil; 

4.    Renovando, nesta circunstância, o seu repudio a todas as formas de terrorismo e violência, de onde quer que venham e a quem quer que atinjam.

Rio de Janeiro, 23 de setembro de 197615    

Por sua vez, o vigário geral de Nova Iguaçu, Mons. Arthur Hartmann, divulgava um “Comunicado ao povo de nossa diocese de Nova Iguaçu”:  Dom Adriano Hipólito, nosso irmão e pastor, foi selvagemente seqüestrado, encapuzado, torturado e algemado, em companhia de Fernando, seu sobrinho, na noite do dia 22 de setembro. Os autores do monstruoso crime nós os conhecemos muito bem: são aqueles que querem fazer calar a voz da Igreja em defesa dos direitos humanos. A cegueira desses assassinos impede-os de ver que o martírio não é um acidente na vida da Igreja; ao contrário, dar a vida pela libertação dos que são vítimas da injustiça faz parte da essência mesma da vocação cristã:  “Felizes sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disseram falsamente todo o mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exaltai, porque será grande vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”(MT 5, 11-12).   
O próprio Filho de Deus foi preso, torturado e morto na cruz por amar os mais humildes. Os altares da Igreja estão repletos de santos mártires que foram vítimas dos “filhos das trevas”, os quais, em todas as épocas de opressão, tentaram abafar os “clamores do povo” (Ex 3,7). Ninguém ignora que, nesses últimos anos, nos países da América Latina, inúmeros cristãos _ leigos, religiosos, padres e bispos _ foram perseguidos por causa da justiça. Recentemente, vários bispos de nosso continente foram presos na cidade de Riobamba, no Equador. Tais fatos mostram que o seqüestro e a tortura de dom Adriano não são um ato isolado.
O fato é mais uma tentativa de fazer a Igreja trair a própria missão que o senhor lhe confia. Não é um ato que atinge apenas dom Adriano. Todo o povo foi atingido: as bofetadas e pontapés no bispo são bofetadas e pontapés no povo de Deus. Mas não devemos temer tais ameaças: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo de vossa cabeça. É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação” (Lc 21,17-19). Fazemos um apelo a todos os cristãos, para que se unam a nós em oração, a fim de que o Senhor nos conserve sempre firmes em nossos compromissos de anunciar a verdade, na consciência de que a cruz é o caminho da ressurreição.

Sacerdotes, religiosos e leigos da diocese de Nova Iguaçu, reunidos com o vigário geral.                                                               
  23 de setembro de 1976 16    
Dom Geraldo Fernandes, arcebispo de Londrina, vice-presidente da CNBB em exercício da presidência, a principio não queria falar. “Depois acabou dizendo que o fato de os recentes atentados visarem à Igreja, à imprensa e à OAB deve ser ‘porque estas entidades são as que costumam falar. Nós é que emitimos opinião. E falamos claro. É claro que”,  colocando o carro estraçalhado em frente a CNBB, os terroristas pretendem nos fazer uma advertência. Há aí um grupo que quer nos intimidar para que não defendamos os injustiçados.” 17
Dom Eugênio Sales, cardeal arcebispo do Rio, esteve fora do Palácio São Joaquim por quase todo o dia 22. Ele regressou por volta das 21h 30min.
   Alguns instantes após sua chegada, dom Eugenio recebeu um telefonema avisando do seqüestro de dom Adriano Hipólito. Ele quis se deslocar para Nova Iguaçu, mas os padres que falavam ao telefone acharam mais conveniente que ficasse fazendo contato com as autoridades.
Imediatamente, o cardeal ligou para o governador Faria Lima, o prefeito Marcos Tamoyo e o comandante do I Exército, com quem disse ter mantido “contatos constantes” durante toda à noite. Dom Eugenio disse que a reação das autoridades com quem esteve em contato “foi de perplexidade e cooperação total na elucidação deste crime”.
Ele disse que era difícil fazer qualquer tipo de prognóstico quanto à autoria da atentado. “Tanto pode ser uma organização, quanto pessoas interessadas em fazer tumulto. Serão difícil tanto os trabalhos de apuração quanto à disposição em punir.” 18 No dia seguinte ao seqüestro, ele distribuiu uma nota oficial sobre o mesmo: “O seqüestro de dom Adriano, bispo de Nova Iguaçu, fere profundamente os sentimentos de nosso povo. Nessa oportunidade, reitero a veemente condenação desses atos terroristas, feita há poucas semanas. Aliás, elas não atingem o alvo desejado. Triste de um país onde a conduta dos cidadãos fica à mercê da insanidade de alguns. Sei que as autoridades estão firmemente empenhadas na identificação e castigo dos criminosos”19. Numerosos (arce) bispos exprimiram sua solidariedade a dom Adriano, assim como a repulsa a esse ato “estúpido e sem sentido”. No dia seguinte, era dom Aloísio Lorscheider, presidente da CNBB, quem divulgava um documento de “Excomunhão para os seqüestradores do bispo”.
1.    A presidência da CNBB faz publico o teor de cânon 2343, § 3.° do Código de Direito Canônico: “Quem praticar violência contra a pessoa de um patriarca, arcebispo ou bispo, embora só titular, incorre em excomunhão latae setentiae (automaticamente) reservada de modo especial à Sé Apostólica”
2.    Castiga este cânon as injurias reais, consistentes em ações contra o corpo, ou contra a liberdade, ou contra a dignidade.
3.    Recorda a mesma presidência que este castigo canônico aponta a gravidade do delito cometido contra dom Adriano Mandarino Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, RJ.
4.    Com toda a comunidade católica, a presidência da CNBB pede a Deus que inspire melhores sentimentos aos que ora incorreram na dolorosa mas necessária sanção eclesiástica20.

Foi na entrevista coletiva do dia 29 que dom Adriano distribuiu a nota “Nas mãos de Deus”, em que relata o sequestro. Ela se realizou no Centro de Formação de Líderes da diocese de Nova Iguaçu, e dom Adriano estava assistido por dom Aloísio Lorscheider, presidente da CNBB e do CELAM; por dom Alfonso Lopez Trujillo, secretário geral do CELAM, e por dom Ivo Lorscheider, secretário geral da CNBB.
Dom Aloísio disse na oportunidade que o episódio “foi bom porque pudemos constatar a sua gravidade, justamente quando começa a ser realizada uma reunião de bispos do continente latino-americano. A CNBB e o CELAM estão dando total apoio a dom Adriano”. Hipólito,que realiza um trabalho digno e muito positivo na baixada fluminense” ·...
Os bispos da Província Eclesiástica de São Paulo: a arquidiocese, Santos, Mogi das Cruzes, Itapeva aproveitaram a ocasião de sua reunião ordinária de 28 de setembro e  decidiram enviar uma palavra oficial às suas Igrejas nos seguintes termos:
Os Bispos da Província Eclesiástica de São Paulo, em reunião ordinária no dia 28 de setembro de 1976, refletiram sobre os acontecimentos terroristas que nos últimos dias atingiram, entre outras pessoas e entidades, o Sr. Bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano  Hipólito,e a CNBB e julgaram conveniente uma palavra oficial às suas Igrejas.

Em primeiro lugar, não se deve estranhar que os cristãos venham a sofrer injúrias, perseguições e até o martírio por causa da fé e da sua adesão ao Senhor Jesus. A história antiga e recente no-lo mostra, e o evangelho nos previne: “Bem-aventurado sereis quando vos insultarem e perseguirem e, mentido, disserem todo o gênero de calúnias contra vós por minha causa. (Mt 5, 11)”. Acrescente-se a isto o fato de no Brasil se estarem repetindo e divulgando, por quase toda parte, ataques – alguns violentos incitadores – na imprensa e em livros contra a igreja, contra o Santo Padre, os bispos, o clero e alguns fiéis, ataques estes impunemente acolhidos, sem que se possa entender como tiveram aceitação nos meios de comunicação social. Nesta linha de procedimento incitador contra a igreja é que se devem entender as cartas anônimas com ameaças, as calúnias com fotografias montadas, os telefonemas com intimidações, cuja autoria confiamos, será possível,a quem de direito, pesquisar e descobrir, com   urgência e eficácia, excluindo sempre métodos contrários à dignidade da pessoa humana.                
Em segundo lugar, desejamos que os homens de boa vontade compreendam que nossa solicitude e ação, por serem evangélicas, estão comprometidas com a pessoa humana e sua dignidade, com os deveres e direitos daí  decorrentes, com a vida da população mais necessitada, com os oprimidos que não têm quem por eles fale. Alguns por ignorância, outros por má-fé procurarão ver nesta ação comprometimento com ideologias que nunca aceitamos nem defendemos, pois nossa vinculação é somente com o Evangelho de Jesus Cristo, que é amor e justiça.        

A catedral de nova Iguaçu foi pequena para acomoda a multidão de fiéis -                                         operários,trabalhadores,estudantes e dona-de-casa – que comparecerão a primeira missa  celebrada por dom Adriano Mandarino  Hipólitico da costa,depois de seu seqüestro no útimo dia 22, reinvidicado  pela aliança anticomunista  brasileira. Mia de 5.000 pessoas  lotaram a nave da igreja e se transmissão  pelo alto-falante.no altar ,67 padres , solenes paramentados de branco e verdes ,entre os quais sete bispos de vários estados do Brasil.
Antes de a cerimônia começar, os alto-falantes, desde as 15 horas , já transmitiam alguma das 105 cartas de solidariedade enviadas à catedral por bispo e religiosos com veementes protesto  e denúncia sócios.   As 16h15min. Ao deixarem a sacristia em direção ao altar, corredores de fiéis procuraram beijar as mãos dos padres, especialmente de dom Hipólito. Muitos choravam.
Uma banda de música da legião de Maria tocou, antes da celebração. O conteúdo político da cerimônia marcou a escolha dos textos evangélicos. O “sentida missa”, lido  para os fiéis dizia: “irmãos aqui estamos para manifestar nossa  solidariedade ao nosso irmão e pastor, dom Adriano. Todos sabemos como, na noite do dia 22 de setembro, foi selvagemente sequestrado, encapuzado, algemado e torturado juntamente com seu sobrinho Fernando. Os autores desse atentado  disseram que iriam fazer o mesmo com os outros bispos da Igreja. O que pretendem é atingir a posição da Igreja em favor do povo, dos pobres, dos oprimidos: Querem amedrontar e fazer calar a voz da Igreja em defesa dos direitos humanos”.
 Cada um dos bispos presentes usou da palavra no sermão iniciado por dom Waldir Calheiros, bispo de Volta Redonda, que,  na últimas semanas, tem recebido constantes ameaças por parte de organizações terrorista21.

Na sua habitual “Oração por um dia feliz”, publicada na edição de “O Mensageiro” de 4 de outubro, dom  Avelar Brandão vilela, arcebispo de Salvador, assim se exprimia:                                                                                                                                                                                 

“Ainda estamos sob a dolosa impressão do episódio sem qualificativos  que
Envolveu  a pessoa de dom Adriano  Hipólito, bispo  de Nova  Iguaçu”. O trucidamento de dom Pedro Fernandes Sardinha foi praticado por índios antropófagos. Não cometeram
Crime. Faltava-lhe a consciência moral necessária para que de fato praticassem um ato de
Responsabilidade.  A prisão de dom Vital e de dom Macedo Costa foi ato de violência, embora se tivessem respeitado certos critérios no trato da  pessoa humana, como o direito de defesa.”                                                                                                      
            Afirma dom Avelar, em seguida, que o sequestro de dom Adriano Hipólito “significa  uma ação terrorista  planejada  e executada com todos os requintes do desrespeito à pessoa em si como cidadão, e à função e missão  que exerce, na qualidade de pastor de uma grei diocesana. O fato, pelo ineditismo de suas características, pela comprovada intenção de querer ferir e de ferir de fato  um bispo corajoso e fiel à linha e ao estilo pastoral que adotou para a realidade de sua diocese, atingiu também o coração da Igreja”22.

Uns 20 dias depois, por ocasião da reunião da Comissão Representativa da CNBB, no Rio,  dom Avelar volta ao assunto:
“O atentado cometido contra o bispo de Nova Iguaçu ofende a toda a Igreja. O que aconteceu com dom Adriano é, de certa forma , mais grave que a morte do Pe. João Bosco, porque,  enquanto o assassinato pode ter sido fruto de  ato impensado, e alguém  responde por esse planejamento. O seqüestro e as sevícias sofridas por ele constituem acontecimento único, sem precedentes na história eclesiástica do Brasil. O governo não pode deixar de se pronunciar e só pode marcar presença se apurar as responsabilidade...”
“Dom Adriano Hipólito nos visitou” _ disse o primaz do Brasil _ “e nos relatou,de viva voz, o triste e deplorável  episódio de seu seqüestro e os  sofrimentos físicos e morais  de que  foi vítima. Esta visita, da parte da CNBB, representou oportunidade excepcional para demonstrar-lhe solidariedade. De outro lado, ensejou um relato minucioso das circunstâncias especiais do acontecimento que deixou estarrecida  a consciência nacional. A Comissão Representativa considera o atentado como se fosse feito à Igreja”.          
Segundo o ex- vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o que aconteceu a dom Adriano Mandarino Hipólito “trata-sede um ato que não tem similar na história eclesiástica do Brasil”. Disse ainda que o “o atentado moral nos parece mais grave  do que o atentado físico”...        
“Não imaginamos diz ainda em seu texto tenha sido este fato obra do governo. Absolutamente não. Temos do General Geisel a impressão de um homem sério, honesto e que, dentro das dificuldades do país, procura abrir  caminhos para situações mais definidas.                                                                                                                                       Nas entendemos que o governo, após o necessário exame e detida informação sobre o doloroso acontecimento, marcará sua presença neste momento histórico,digno das grandes preocupações nacionais”. Quanto a isso, dom Avelar Brandão Vilela  _ que falou sempre com veemência incomum _assegurou que “o governo ainda pode se manifestar”. No que
respeita ás investigações, as informações de que dispõe o episcopado, segundo o cardeal, são as de que elas “estão em compasso de espera. Mas todos aguardamos _acrescentou _que o governo marque sua presença”.Para o primaz do Brasil, “os órgãos de segurança estão mais habituados a lidar com a subversão de esquerda”23.          
Em dezembro desse mesmo ano, dom Adriano completava dez anos como bispo da diocese de Nova Iguaçu.Ele concelebrou a missa com 68 padres. No inicio da celebração mesma, os leigos leram uma mensagem explicando o sentido da celebração que ia se iniciada:          

Nesses dez anos de pastor, dom  Adriano não se cansou de falar e agir para abrir os olhos de todos em face da grave situação de insegurança de tantos de nossos irmãos subnutridos, sem recursos para a saúde e para a educação e instrução, expostos à violência e à exploração. Por causa de sua pregação foi torturado, injuriado, abandonado nu e algemado na via pública, mas seu martírio deu mais vigor a sua palavra e apelos à luta e união contra as injustiças. Estreitou nossa união, aumentou nossa fé, encorajou a todos na defesa  dos que, na Baixa Fluminense, não tem vez nem voz. Esta nossa celebração de ação de graça ´é também um sinal, uma prova de testemunho público de que estamos de acordo com nosso bispo24.                                                       
“O Globo” , em sua edição de 24 de setembro, informa que Todas as investigações em torno do seqüestro e agressão sofridos pelo bispo de Nova Iguaçu,dom Adriano Hipólito e seu sobrinho Fernando Webering, serão conduzidas pelo Departamento de Polícia Política e Social e pela Divisão de Órgãos e sistemas, ambos subordinados ao Departamento Geral de Investigações
Especiais _ DGIE, da secretaria de segurança...                                                                       
... Todas as investigações estão sendo comandadas pelo delegado Borges Fontes,titular da Delegacia Política e Social... Ontem pela manhã, após se reunir com o delegado Borges Fontes, o diretor do DGIE deu informações ao general Oswaldo Ignácio Domingues, sobre as investigações...
...Informou-se ainda que os agentes do DPPS, apesar da demora nos trabalhos do instituto de criminalística, trabalham dia e noite na elucidação dos atentados e que os primeiros frutos desse trabalho já iriam aparecer25.
Dia 25, o “Jornal do Brasil” fazia referência a uma ordem, emitida no dia anterior,  pelo secretário de segurança Oswaldo Ignácio Domingues
.            ... para que os fatos sejam apurados com rigor e urgência (o que) mobilizou, além dos agentes da Delegacia de Polícia Política e Social, todo o efetivo das29ª e 33ª  DPs (Madureira e realengo) e alguns soldados da PM que  participaram da ocorrência...                                              
... com relação aos laudos sobre os exames de fragmentos do pertado escolhido na ABI, da bomba apanhada intacta na OAB e do material  arrecadado no carro do bispo dom Hipólito e residência de Roberto Marinho, informaram seus assessores que estes deveram demorar, em face de atual deficiência do Instituto de criminalística26.    
Também o “Jornal do Brasil”, agora em suas edições de 30 de setembro, confirma a demora nas investigações, com a notícia intitulada “DOPS não tem pista do seqüestro”:       
 Os policiais do DOPS ainda não têm pistas para esclarecer o seqüestro do bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, nem as   Explosões de bombas que destruíram seu carro e atingiram a casa do jornalista Roberto Marinho.                            
As investigações ainda se restringem aos depoimentos.
            O inquérito que apura a explosão na ABI e a colocação da bomba na sede da OAB/RJ também continua em andamento no DOPS, e ontem várias pessoas foram ouvidas.
            Os autos devem ser remetidos à justiça nas próximas semanas, sem apontar os autores ou autor dos atentados27.
            Dois meses depois do atentado, dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio, dava a entender que já sabia “o nome dos seqüestradores do bispo dom Adriano Hipólito, pois ‘fui informado por uma determinada autoridade da procedência das pessoas responsáveis pelo atentado’.como alguém insistisse em relação aos nomes,dom Eugênio comentou, ‘soube por telefone,e por telefone não se diz tudo”28.
No começo de dezembro, foi entregue a dom Adriano, para ser encaminhado  ao ministro da Justiça, um manifesto da população de Nova Iguaçu, com o pedido de informações sobre o andamento das diligências que apuram o seqüestro, espancamento e tortura do bispo, ocorrido em setembro29.
Poucos dias depois, a 10 do mês de dezembro de 1976, a SSp distribuía a seguinte nota:
A SSP prossegue, através do Departamento de Polícia Política e Social do DGIE, nas investigações para apurar os atentados a bomba, praticados na cidade , a partir de 19 de agosto deste ano, o seqüestro de dom Adriano Hipólito e de seu motorista. Apesar das dificuldades da apuração de fatos dessa natureza, lograram as autoridades... elaborar três ”retratos falados”  de participantes do referido seqüestro. Estão sendo realizadas diligências para o levantamento da identidade dos retratos30.
Essa nota não impediu que o “Jornal da Tarde”, no dia seguinte , titulasse uma notícia sobre o seqüestro: “Três retratos falados, mas nenhuma pista dos seqüestradores” e explicasse: “Os retratos falados são apenas uma tentativa do delegado Borges Fontes para diminuir as pressões que vem sofrendo, e que aumentaram na semana passada, depois da explosão da bomba  na porta da Editora Civilização Brasileira”31.
         Dia 11 de março de 1977                                                                           
 O promotor Walter Vgderowitz, da Primeira Auditoria da Marinha, requereu ontem ao juiz Carlos Augusto Sussekind de Morais Rego o arquivamento dos inquéritos instaurados na Delegacia de Polícia, Política e Social, para apurar o seqüestro do bispo de Nova Iguaçu,       dom Adriano Hipólito, e o atentado a bomba à residência do jornalista Roberto Marinho, praticado no dia 23 de setembro do ano passado, tendo magistrado concedido a medida.
Os autos foram remetidos à Corregedoria da Justiça Militar. O promotor pediu o arquivamento porque as autoridades policiais, apesar da prorrogação dos prazos para a realização de novas diligências, não  encontraram elementos para apontar os responsáveis, tanto pelo seqüestro, quanto pelo atentado32...
Após tal atentado o bispo se manteve sereno e tranqüilo naquilo que pregava e anunciava o povo. Pe. Monteiro recentemente relatou ao autor deste trabalho.Que foi desta forma que encontrou o bispo Adriano, e após uma série de conversas na delegacia, perguntaram ao   Pe. Monteiro quem poderia ser o autor do tal crime ele responde.     “Passava dentro da vila militar, não o demonstrava medo em momento algum durante de tal caminho, então que vocês acham que cometeu tal crime?.”33



1 -  Revista de Cultura Vozes – Janeiro /Fevereiro de 1981  e  (Telefonema idêntico foi dado, à mesma hora, para a agência France Presse.)
2  - Jornal do Brasil”,  23 de setembro de 1976
3  - idem- “O estado de S. Paulo”, 24 de Setembro de 1976.
 anterior
4 - “O estado de S. Paulo”, 24 de Setembro de 1976. 
5 - Comunicado mensal, 288 (1976): 919-924. 
6 –“Jornal da Tarde” , 23 de setembro de 1976.
7 - “O Globo”, 24 de setembro de 1976. 
8 – “O Globo” , 24 de setembro de 1976.
9 - “Jornal da Tarde”, 24 de setembro de 1976. 
10  -  “Jornal da Tarde” , 24 de setembro de 1976.
11  - cf  “O Globo’’, 24 de setembro de 1976. 
12 -Ibidem.
13 - “O estado de S. Paulo”, 24 de setembro de 1976
14 - “O Globo”, 24 de setembro de 1976.
15 - Comunicado mensal, 288 (1976): 924-925.
16  – Ibidem, pp. 925-926
17 - “Diário Popular”, 24 de setembro de 1976.
18 - “O Globo”, 24 de setembro de 1976.
19 - Ibidem, 24 de setembro de 1976.
29 - Ibidem, pp. 927-928.
20 - Ibidem, pp. 927-928. 
21 - “Folha de S. Paulo”, 4 de outubro de 1976.
22 - “Jornal do Brasil”, 5 de outubro de 1976.
23 - “Folha de S. Paulo”, 22 de outubro de 1976.
24 - “Jornal do Brasil”, 6 de dezembro de 1976.
25 - “O Globo”, 24 de setembro de 1976.
26 - “Jornal do Brasil”, 25 de setembro de 1976
27 - Ibidem, 30 de setembro de 1976.
28 - Ibidem, 28 de novembro de 1976.
29 - Cf. ibidem, 7 de dezembro de 1976.
30 - “Jornal do Brasil”, 11 de dezembro de 1976.
31 - “Jornal da tarde”, 13 de dezembro de 1976.
32 - “Folha de S. Paulo”, 12 de março de 1977.
33  - Entrevista concedida pelo Pe Moteiro, em 06/06/2008 na residência de D. Luciano em N. Iguaçu

VII  - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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